Voltar

"Povo que canta não morre"

"Povo que canta não morre"


"O Alentejo canta, logo resiste" escreveu Sérgio Tréfaut a propósito do documentário, premiado, que efetuou sobre esta forma de cantar e o processo de candidatura do cante alentejano a património imaterial da humanidade mostra isto mesmo, resistência, porque até ser aceite, conheceu muitos altos e baixos.

A ideia da candidatura partiu de um desafio lançado ao presidente da autarquia de Serpa, João Rocha, pelo embaixador Fernando Andresen Guimarães, que já foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO. A sugestão veio na sequência da preparação da candidatura da cidade de Serpa à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, no tema Música. Quando esta notícia surgiu, nos finais de 2011, avançava que o processo seria entregue em Março de 2012, na sede da UNESCO.

O presidente da República, Cavaco Silva, liderava a comissão de honra e dela faziam parte também, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, o bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Manuel Clemente, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Rui Vilar, e o comendador Rui Nabeiro. A presidir à comissão científica estava Rui Vieira Nery, o musicólogo responsável pela comissão científica da candidatura do fado a património da humanidade.

Chegou março de 2012 e, no seu início, a reunião, em Serpa, no Musibéria, dos municípios apoiantes da candidatura. Deste encontro resultou o compromisso de 35 câmaras municipais, que representavam mais de 60 por cento dos municípios com grupos de cante, e mais de uma centena de juntas de Freguesia com a candidatura do cante alentejano. A estas entidades juntaram-se ainda, 28 grupos corais, 122 cantores a nível individual e mais 1730 subscritores da petição pública na Internet. Uma candidatura que, por esta altura, mereceu, igualmente, o apoio institucional de 21 entidades: universidades, direções gerais, institutos públicos e fundações.

Carlos Laranjo Medeiros presidiu a comissão executiva e a 5 de março de 2012 afirmava que os \"elementos essenciais\" que tinham de ser entregues: formulário, o filme sobre o cante alentejano realizado por Sérgio Tréfaut, o plano de salvaguarda e a escolha das fotografias necessárias estavam praticamente concluídos, para uma candidatura promovida pela Confraria do Cante Alentejano, Casa do Alentejo, Associação MODA e por todos os municípios aderentes, como a Câmara de Serpa, que, juntamente com a Turismo do Alentejo patrocinava a iniciativa.

Com a data de entrega a aproximar-se começaram a aparecer declarações de apoio. A 13 de Março de 2012 foi a da CIMBAL e a 27 desse mesmo mês, a do Bispo de Beja.

A 28 de Março de 2012, a comissão executiva da candidatura entregou na Comissão Nacional da UNESCO, o dossiê e explicou, em Lisboa, o processo que estava em curso.

Naquela altura, Salwa Castelo Branco, da comissão científica, dizia-se defensora \"desde o início, da candidatura, mas considerava também, que a mesma \"ganharia, com mais um ano, mais investigação de suporte e maior envolvimento das comunidades\". Ocasião em que, o presidente da Comissão Nacional da UNESCO, António Almeida Ribeiro, divulgou que seria desejável atrasar a entrega da candidatura do cante alentejano a Património Imaterial da Humanidade, apenas em 2013, justificando este atraso de um ano, com base no facto de considerar que a mesma "ainda não está amadurecida e que podia ser chumbada".

Por sua vez, a Comissão Executiva assegurava que "tudo tinha sido cumprido com elevada qualidade", da sua parte, "assim como, da comissão científica" e que acreditava "ser reversível a decisão política de adiar a entrega da candidatura por um ano".

As piores expetativas começavam a ganhar forma e a candidatura do cante alentejano a Património Imaterial da Humanidade manifestou, publicamente, em Lisboa, também a 28 de Março de 2012, a sua \"indignação\" pela decisão da não entrega do processo à UNESCO, em Paris, dois dias depois.

Naquele dia, mais de 500 elementos de diferentes grupos corais de cante alentejano estiveram concentrados em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), em Lisboa, onde esperavam ver recebida a candidatura daquele canto. Cerca das 12:30 horas, de 28 de março de 2012, os grupos, masculinos e femininos, provenientes de localidades como Quinta do Conde, Santo Aleixo da Restauração, Baleizão e Vila Nova de São Bento, entoaram várias modas do cante alentejano, num apelo para que a Comissão Nacional da UNESCO e o MNE entregassem, em Paris, o dossiê da candidatura. Entre os temas interpretados cantou-se \"Grândola, Vila Morena\".

O actor Nicolau Breyner, natural de Serpa, no dia 28 de março de 2012, foi o rosto da candidatura, que na Casa do Alentejo leu um comunicado em que se afirmou que \"adiar a entrega de um excelente e bem fundamentado documento é exigir aos portugueses que continuem a desbaratar dinheiros públicos durante não se sabe quanto tempo\".

No dia a seguir várias vozes se fizeram ouvir, a favor da entrega da candidatura, entre elas, João Rocha, José Ribeiro e Castro, deputado do CDS-PP e presidente da Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura, assim como de deputados eleitos pelo distrito de Beja, mas o prazo terminou e a decisão de adiar a entrega da candidatura por um ano acabou por se confirmar.

A partir daqui o processo tomou um outro rumo.

A 16 de junho de 2012, a Comissão Executiva da Candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO realizou, nas instalações do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), uma reunião com grupos corais do Baixo Alentejo para debater a caracterização desta manifestação cultural. Da Comissão Executiva participaram: João Rocha, presidente da Câmara de Serpa, João Proença, presidente da Direção da Casa do Alentejo em Lisboa, Joaquim Soares, presidente da Direção da MODA, Francisco Torrão, presidente da Direção da Confraria do Cante, Paulo Lima, antropólogo, e Vito Carioca, presidente do IPBeja.

No dia 6 de julho de 2012, Lisboa recebeu, na baixa pombalina, um desfile de cante alentejano. A iniciativa foi da comissão executiva da candidatura do cante a património imaterial da UNESCO e foi realizada numa altura do ano, em que a baixa lisboeta está cheia de turistas e visitantes, que desta forma conheceram o cante como expressão portuguesa, ao mesmo tempo que se aumentou a visibilidade da candidatura. Após os desfiles houve ainda, uma atuação conjunta dos grupos participantes na praça principal do Rossio.

No dia 21 de Julho abriu a Casa do Cante em Serpa, com a \"missão\" de \"criar e implementar um plano de salvaguarda para a polifonia tradicional\", uma responsabilidade decorrente da candidatura do Cante Alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

No final de 2012, a 27 de novembro, voltaram as notícias acerca da entrega da candidatura do cante alentejano a património imaterial da humanidade, para o início de 2013, numa revelação feita em Lisboa, na abertura de um colóquio internacional sobre políticas públicas, pelo presidente da Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, António de Almeida Ribeiro.

A 11 de Janeiro de 2013, a Câmara de Serpa revelava que \"a candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO ia ficar pronta" no final daquele mês e que assim que o dossiê estivesse concluído seria "entregue de imediato à Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO), para que o seu presidente pudesse cumprir o compromisso que assumiu de o fazer chegar a Paris, assim que o tivesse em sua posse.

A 28 de Março de 2013, a candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade deu formalmente entrada, no comité internacional da UNESCO.

As notícias da formalização do processo na secretaria da UNESCO e da sua aceitação chegavam a 2 de Abril de 2013.

A 8 de Maio de 2014, o documentário:  "Alentejo, Alentejo"  foi distinguido como Melhor Longa-metragem Portuguesa pelo IndieLisboa 2014. O filme que também se inseriu na candidatura do cante alentejano a património da humanidade, mostrou a qualidade deste processo, disse na altura à Voz da Planície Paulo Lima, presidente da Casa do Cante e um dos elementos envolvidos na candidatura.

Em junho deste ano, Rui Vieira Nery, conhecido musicólogo, elogiava, numa conferência, em Serpa, no âmbito do Encontro de Culturas, a qualidade do Plano de Salvaguarda e dizia acreditar que a candidatura ia merecer parecer positivo da UNESCO.

No mês que passou, no dia 27, foi entregue o parecer favorável de uma comissão internacional de especialistas da UNESCO. Um parecer que saiu de uma reunião prévia aos trabalhos do Comité do Património Imaterial da Humanidade, que vai reunir-se entre 24 e 27 deste mês e, de onde vai sair a decisão final.

O Município de Serpa esteve na dianteira do processo de inscrição do cante alentejano como património imaterial da humanidade e o presidente Tomé Pires, no "Preto no Branco", do dia 31 do passado mês de Outubro, avançou que para além do parecer favorável que já obteve, a candidatura submetida foi considerada "exemplar", frisando que ficou dentro das 60 propostas aprovadas e que integra um grupo restrito de cinco, as consideradas exemplares.

A decisão final será conhecida a 26 deste mês e até lá, a Voz da Planície conta-lhe, todos os dias, a história desta candidatura, das pessoas que nela se envolveram, assim como das vozes que integram e ensaiam os grupos de cante alentejano, passando por aqueles que apostam na renovação, na sua perpetuação e que elevam o cante além-fronteiras.


Revista RVP-Ovibeja 2024

PUB
PUB
PUB

Música

Mia Gama estreia-se com "Undercover"

Acabou de tocar...

BEJA meteorologia
Top
Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegar estará a aceitar a sua utilização.