No folheto que a Câmara de Beja fez chegar aos munícipes por estes dias, o presidente João Rocha apresenta a "valorização do património e da cultura como um setor estruturante da dinamização do centro histórico", integrando-a na "estratégia de desenvolvimento" do concelho e frisa "ser imperioso avançar com as obras e intervenções associadas, nomeadamente a demolição do depósito de água, que existe no local onde está a ser construído o Centro de Arqueologia e Artes de Beja, pelo estado de degradação significativo que apresenta e porque outro tipo de planos e soluções impediria os trabalhos de investigação em curso". O autarca não revela contudo, qualquer data para a demolição do depósito de água em causa.
No folheto distribuído pela autarquia bejense são apresentadas também opiniões de diversos especialistas que defendem a demolição do depósito de água.
José António Falcão, diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, mostra-se a favor da demolição do depósito de água, dizendo que "nada o distingue do ponto de vista estético", tratando-se de "um equipamento utilitário de razoável envergadura, mas banal, sem um único traço verdadeiro de beleza, que veio competir, simbolicamente, no skyline, com a referência principal da cidade, a torre de menagem do castelo" e pede para o mesmo "um obituário digno, com levantamento arquitetónico e muitas fotografias, em nome da memória da contemporaneidade"
A arqueóloga Conceição Lopes, também é a favor da demolição e esclarece que "sacrificar" aquela estrutura "não é um sacrifício", mas sim "uma escolha ponderada em razão da vitalidade e do futuro da cidade".
Neste folheto outras individualidades apresentam, igualmente, os motivos pelos quais são a favor da demolição do depósito de água.
António Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo/Ribatejo releva a importância que o Centro de Arqueologia e Artes pode ter no futuro para Beja, alavancando e motivando visitas à cidade e felicita a autarquia por esta iniciativa "meritória" e "distintiva".
A arqueóloga Susana Correia afirma que "entre a manutenção de um depósito de água com pouco mais de setenta anos e sem particular valor arquitetónico" e fazer "reviver de "forma luminosa o esplendor da(s) cidade(s) que fomos, a opção não se afigura difícil: dê-se a Beja o que Beja merece".
O arqueólogo Cláudio Torres recorda que "na linha do horizonte o perfil de Beja sempre dominado pela sombra esguia e imponente da torre de menagem foi quebrado, durante o Estado Novo, por um monstro de betão". Feliz por terem chegado ao fim os anos de durabilidade do betão do depósito de água pede que "finalmente seja cumprido o gesto de coragem que decidiu abrir aquela zona nobre da cidade a um espaço e volume cultural que dignifiquem a Praça da República, que pode e deve passar a ser o orgulho de Beja".
Mas também há quem tenha dúvidas e que coloque algumas questões sobre as duas opções que estão "em cima da mesa". A voz é de Florival Baiôa, presidente da Associação de Defesa do Património de Beja, que quer saber se o depósito de água "impede as escavações arqueológicas e a criação do Centro? O projeto arquitetónico é de superior qualidade técnica e estética que poderá trazer maior riqueza à cidade e à região? O projeto de escavações será rápido e exigente? O projeto de musealização compreende a reconstrução de aspetos importantes dos achados arqueológicos, contribuindo para a compreensão das estruturas arqueológicas?". Florival Baiôa conclui dizendo que "se estes aspetos forem positivamente considerados, então creio que o depósito de água poderá, tal como a Torre de Babel, ser demolido. Caso contrário se estas condições não se confirmarem, e se "o depósito puder integrar um projeto de compreensão da história patrimonial da cidade, sem interferir na rutura da imagem que os seus cidadãos têm do seu perfil e os projetos de renovação urbana não estiverem a um nível de qualidade internacional, então o depósito deve ter obras de consolidação e permanecer como património visual da cidade".
Seja como for, João Rocha responde, no folheto, a algumas destas inquietações, referindo que o que está em causa é a "preservação e valorização deste núcleo arqueológico ímpar a nível local, nacional e internacional" e a "promoção económica, social, cultural e artística. Trata-se de colocar este património ao serviço do desenvolvimento da cidade de Beja".
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