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Opinião

"O mês é Novembro, o penúltimo do ano"

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"O mês é Novembro, o penúltimo do ano"

Foto: Rádio Voz da Planície

"Os dias, esses, são vários e internacionais: - Dia Europeu contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual de Crianças e Jovens, a 18; Dia do 35º aniversário da Convenção dos Direitos da Criança, a 20. A 25, assinala-se o Dia Internacional de Eliminação da Violência contra as Mulheres" é afirmado na crónica de opinião de Maria Manuel Coelho, antropóloga, que pode ler e ouvir aqui.

"São dias atrás de dias e a violência não pára, acumulam-se os rostos e os casos, os nomes e as imagens de um flagelo que não devia acontecer no Século XXI, em nenhum lugar do mundo. E acontece ao nosso lado. E agrava-se e aumenta, quando deveria cessar de vez.

Nas TVs, em prime time servido à hora do jantar, sabemos que mais uma mulher foi atacada com ácido, por um homem que não aceitou que ela é um ser autónomo e com vontade própria. O seu ex-companheiro. Ontem foi a criança que foi ouvida em Tribunal, num testemunho de gigante coragem contra o pai abusador. Amanhã será a mulher que saiu de casa com a roupa do corpo, rumo a qualquer casa-abrigo, na tentativa de proteger os filhos de um cenário anunciado. Todos os dias, todos os dias.

As entidades mobilizam-se, fazem-se cartazes e desfila-se nas ruas. Multiplicam-se as campanhas de prevenção, alertando os decisores políticos bem como toda a sociedade para os números da violência. Choram-se as vítimas, engole-se a raiva. Todos os dias.

No Relatório de avaliação da atividade anual das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens reportou que, no ano 2023, estas entidades receberam 1262 sinalizações de suspeita de abuso sexual contra crianças ou jovens. Os estudos comprovam que, mais de 70% ocorrem no seio familiar e estima-se que este número seja apenas uma ponta do iceberg. O fenómeno é complexo e difícil de entender mas uma coisa é certa, a sociedade está gravemente doente.

De acordo com a APAV, só no 1º semestre de 2024 foram reportados mais de 15 mil casos de violência doméstica, a maioria contra mulheres e raparigas. De acordo com dados oficiais da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 18 terminaram em mortes. Os números são frios e anónimos. Mas, nestes números, acabou a vida da Joana, da Maria, da Antónia, da Esmeralda, da Susana e de outras jovens mulheres que tinham planos e sonhos, projetos nunca cumpridos porque sucumbiram às mãos daqueles que, um dia, terão sido o amor da sua vida. Muitas, deixam filhos que nunca poderão ser adultos completos, amputados de um amor que não mais os segurará no colo.

São demasiados números, rostos novos a cada dia, gritos no calendário que clamam por mais ação, mais justiça, melhor prevenção, mas que ainda passam ao lado de tantos, imersos nas teias das suas vidas, entorpecidos e alheios ao horror destas tragédias, que vitimam muito mais que as vítimas mortais.

São cifras negras que nos envergonham e doem, é um mal que urge reparar e erradicar, a bem de um Futuro promissor e saudável.

A Escola é o terreno para cultivar novas mentalidades e destruir paradigmas. A Educação para a justiça, a igualdade, a tolerância e os afetos será o antídoto para curar o veneno e criar as novas

gerações em harmonia. Sem preconceito ou fomento de desigualdades, sejam elas de género, de classe social, raça ou credo. Com os olhos postos numa sociedade desenvolvida e onde ninguém possa sequer imaginar-se como superior ou proprietário de outro alguém.

O diagnóstico está feito, as receitas estão prescritas, o tratamento é eficaz.

Resta-nos enterrar mais uma mulher e perguntar: o que falta para o colocar em prática?"

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