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Autora de livro critica que lares de idosos funcionem hoje como há 20 anos

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Autora de livro critica que lares de idosos funcionem hoje como há 20 anos

A enfermeira Carmen Garcia, autora de um livro que quer pôr o país a falar de velhos, alerta que os lares funcionam como há 20 anos e defende a constituição de equipas distritais da Segurança Social para dar formação.

Em entrevista à agência Lusa a propósito da publicação e apresentação pública do seu livro “A Última Solidão”, que acontece no Dia Mundial do Idoso, na sexta-feira, Carmen Garcia lembra que há duas décadas as “pessoas viviam menos anos, com uma esperança média de vida mais baixa, menos comorbilidades, menos polimedicadas”, e a média de idade de entrada num lar rondava os 70 anos, quando hoje ultrapassa facilmente os 80 anos.

“E nós continuamos a oferecer os mesmos serviços, o mesmo tipo de organização e não funciona”, critica, ao mesmo tempo que defende que é preciso “pensar urgentemente em dividir os lares”.

Essa divisão consistiria em ter um modelo específico para utentes mais independentes e que precisam de uma supervisão mais baixa e menos cuidados de saúde, paralelamente com outros lares, mais próximos de uma unidade de cuidados continuados, para utentes com graves dependências e que precisam de ser mobilizados com mais frequência, onde haveria enfermagem 24 horas por dia.

“Os lares para pessoas mais independentes têm de dar uma resposta muito mais integrada na comunidade, muito mais dinâmica, com muito mais estimulação cognitiva, enquanto os outros lares, de pessoas mais dependentes, têm de dar uma reposta muito mais aproximada quase à de uma unidade de saúde”, defende.

Propõe que as tutelas da Segurança Social e da Saúde repensem as estruturas de apoio aos idosos e sugere também que equacionem a possibilidade de os velhos ficarem nas suas casas e de aumentar o valor de apoio às famílias.

Ou que seja criado um mecanismo para que se possa adotar um idoso: “Como há amas da segurança social para as crianças, pode haver isto para os idosos. Pessoas que estão desempregadas e que podem passar a ser cuidadoras”.

Da experiência de Carmen, as atuais estruturas residenciais para idosos “são uma coisa híbrida” que não sabem responder às necessidades de quem as procura e que “não são suficientes para dar resposta às pessoas mais dependentes”, ao mesmo tempo que os lares ilegais “crescem como cogumelos”.

A autora critica também as inspeções da Segurança Social com aviso prévio, os lares que têm apenas duas auxiliares para 60 utentes à noite ou a falta de formação dos técnicos.

Exemplificou que “as contenções são a primeira bola a sair do saco” quando um velho está mais agitado e retira a sonda que o alimenta, por exemplo, quando isso poderia facilmente ser solucionado com umas luvas que impedem a motricidade fina, mas permitem que a pessoa tenha mobilidade.

Recordou o que presenciou num lar social no Alentejo, em que à noite só havia uma auxiliar, que recorria ao uso de um antipsicótico para acalmar os utentes.

E lamentou a “infantilização constante dos idosos”, traduzida, por exemplo, em dar “a sopinha à Mariazinha” ou pôr os velhos a “pintar bonecos”.

“Quando os velhos fazem as mesmas coisas que os meus filhos na creche, então alguma coisa está errada”, contesta, criticando que os velhos sejam despersonalizados assim que passam a porta do lar.

Propõe, por isso, que a Segurança Social crie uma equipa distrital para dar formação em lares, apontando que “a maioria das coisas que são mal feitas em lares não são por falta de vontade de quem lá está, são por desconhecimento total”.

“Isto era tão simples, rever os conceitos básicos, rever posicionamento, alimentação por sonda, demência, cateteres urinários”, exemplifica.

Sugere também que seja criada uma plataforma, à semelhança do que acontece já na Saúde, em que profissionais dos lares e familiares de utentes possam sinalizar à Segurança Social situações anómalas ou que volte a ser equacionada a proposta do Partido Socialista de criar comissões de proteção para velhos como as que já existem para as crianças.

“Queria muito que olhássemos (…) para a organização interna dos lares para ontem, que dividíssemos as coisas, que pensássemos os rácios, que prestássemos melhores cuidados de saúde às pessoas que são mais dependentes, com mais enfermeiros, que conseguíssemos não ter gente imobilizada, prevenir aquelas escaras horríveis que são um problema nos lares”, adianta, defendendo que o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) seja usado para construir mais respostas e injetar dinheiro nos lares.


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